Descrição |
No Território de Santa Maria da Boa Vista, foi vivenciado o chão dos assentamentos Safra, Vitória, Aquarius e da Comunidade Quilombola Tamquius. Inicialmente será relatado como se deu a imersão no Território, algumas características dos três assentamentos e da comunidade quilombola que pudemos observar e registrar ou que nos foram narrados pelos sujeitos com os quais convivemos neste período de 15 a 21 de julho de 2017. Na maioria das vezes com assentados e suas lideranças.
Nas atividades desenvolvidas buscou-se dar destaque às diferentes narrativas, com o registro de algumas falas, para em seguida retomá-las e refletir a partir de alguns elementos da análise. No exercício de destacar Fragmentos das Narrativas (Falas/ Escritas) e Histórias (Fatos/ Percursos) para construir reflexões a cerca de como vivenciam suas práticas culturais em seu cotidiano e como acontecem as diferentes formas de educar e seus processos educativos. Como constroem, mantêm ou transformam suas relações com a natureza, com os outros, com a produção e nesses processos como se estabelecem as relações de poder. Identificando contradições, alguns conflitos e também diversas aprendizagens.
Foram investigadas instituições como a sede da Associação de Produtores rurais do Assentamento Safra (APRAS), onde oferereram uma das salas para o funcionamento da Rádio Comunitária. Outro sujeito importante nesse território é Seu Tuca que está no Assentamento Safra desde o corte do arame. Com ele realizamos uma trilha partindo da beira do Velho Chico, onde teve início a ocupação em agosto de 1995, com 2.204 famílias acampadas. Conversamos longamente com Seu Tuca que descreveu detalhadamente todos os processos desde o corte do arame, a montagem dos barracos, quais eram as demandas, as necessidades do grupo, os desafios em organizar tantas pessoas.
Num dado momento apareceu o pescador e barqueiro Hélder Coelho, que como ele afirma orgulhosamente, tem “cinquenta anos de rio” e foi um dos “primeiros a apoiar a ocupação, fazendo a travessia das pessoas, carregando alimentos... Aprendi a viver no rio e a respeitar ele e as pessoas que dele precisam”. Contaram-nos que na época havia três principais lideranças que eram Jaime Amorim, Milton e Levi. E que a maioria das famílias eram de trabalhadores rurais assalariados na fruticultura das grandes fazendas da região, e à medida que iam ocupando as outras áreas, hoje assentamentos, foram redistribuindo as famílias por sorteios.
Trabalhamos, também, com a Escola Municipal Francesco Mauro, realizando uma oficina de produção de rádio comunitária, ofertada por Ailton (Peste), que discorreu sobre a necessidade de uma comunicação democrática e a necessidade de se tratar elementos da realidade dos sujeitos onde a rádio funciona.
Foi realizada também uma roda com as mulheres da comunidade, onde estavam presentes 19 (dezenove) mulheres, de diferentes idades e expressões, entre jovens e idosas, com o olhar meio desconfiado, a maioria olhando para baixo. Os relatos foram diversos, entre risos e constrangimentos, situações de opressão e violência, mas também de solidariedade, de algumas lutas e tentativas de libertação, de enfrentamento dentro da família ou na comunidade, e dos julgamentos que sempre ocorrem.
Também foi realizada uma oficina sobre sustentabilidade e meio ambiente e uma roda de conversa com moradores da comunidade, na Escola Municipal Marcos Freire, que está sob a direção do gestor Miguel Raimundo da Silva. A maioria dos adultos e idosos vive a pelo menos 14 ou 19 anos no Assentamento, e trataram de reconstituir as memórias e histórias da comunidade. Assim, com vista à análise, faremos algumas reflexões a cerca das identidades coletivas, das diferenças intra-territoriais e de seus diferentes processos educativos.
|