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A pesquisa de campo no território de Minas Gerais aconteceu no período de 25 a 28 de julho de 2017, favorecendo uma aproximação de três grupos/coletivos, que pelas suas experiências e dinâmica relacional exigiu dos pesquisadores níveis de imersão e procedimentos metodológicos como observação, roda de conversa e entrevista semiestruturada.
A chegada ao primeiro grupo se caracterizou por um reconhecimento inicial, através da participação dos pesquisadores a uma reunião no espaço de artes cênicas Spam, com um conjunto de ativistas do movimento “Muitxs”, formado por professores, artistas e representantes de movimentos sociais. Esse movimento iniciou em 2015 por meio de encontros - “uma tarde de Sábado” - no Parque Municipal de Belo Horizonte, como protesto a privatização dos espaços públicos e com o slogan “A cidade que queremos”, que defendem a construção de uma cidade pelo povo e para o povo, mais espaço público, praças para todos, e de moradia de qualidade.
Os pesquisadores foram convidados a participar de uma roda de conversa, em que o tema gerador estava associado a avaliação e plano de ações, bem como, a relação de vínculo do movimento Muitxs e a Gabinetona, uma vez que, o Muitxs com a preocupação de garantir espaços políticos articulou em Belo Horizonte nas eleições de 2016 o lançamento de uma campanha coletiva para candidaturas a vereador(a) e a prefeito da capital, obtendo como resultado a eleição de duas mulheres ativista (Áurea Carolina e Cida Falabella) como vereadoras, que junto com o movimento Muitxs idealizaram e implantaram uma experiência inédita no país de um mandato coletivo, ao qual deram o nome de Gabinetona, propiciando uma outra lógica de gestão, que num espaço comum, sem divisórias, congregam uma equipe única de 44 pessoas, atuando de forma integrada e com a participação dos ativistas dos movimentos sociais.
É relevante destacar, que Áurea Carolina foi a vereadora mais votada de Belo Horizonte (MG) nas eleições de 2016, com 17.420 votos alcançando a maior votação para a câmara legislativa da capital mineira dos últimos doze anos e tornando-se a mulher com maior número de votos da história da cidade. De certa forma, evidencia a força do movimento Muitxs
Durante a roda, com a fala de uma ativista “O Gabinetona é Muitxs, mas Muitxs não é só Gabinetona” evidencia-se que a problemática posta no momento da roda estava relacionada a questão de identidade dos grupos Muitxs e Gabinetona, que diante das suas aproximações ideológicas, estavam preocupados para que um grupo não sobreponha o outro, o cuidado com as singularidades e com as demandas. Nesse momento, a equipe de pesquisadores sentiu a necessidade de conhecer posteriormente o grupo Gabinetona.
Nesse sentido, o outro grupo observado foi a Gabinetona espaço das vereadoras eleitas que fica localizada na Câmara Municipal de Vereadores de Belo Horizonte. Como procedimento metodológico utilizou-se uma roda de conversa com a equipe da Gabinetona, Durante a roda, constatou-se que a equipe é formada por 25 mulheres, sendo 24 negras e uma mulher indígena, além de 15 LGBT e 4 moradores de ocupação, que tem como princípios a horizontalidade, representatividades e confluência máxima. A equipe atua em 6 núcleos interdependentes e integrados, que possuem autonomia relativa para desenvolvimento das atividades específicas. E os processos decisórios internos são discutidos de forma espiralar, intra e inter núcleo, buscando desenvolver ações e projetos nos eixos de direitos humanos, cultura e direito à cidade.
O terceiro campo de experiência foi a Fundação Helena Antipoff (FHA) localizada na cidade de Ibirité. O nome da fundação faz referência a uma educadora e psicóloga russa que viveu por 85 anos no Brasil, desses 19 anos em Ibirité, e nesse período construiu um legado educacional, sendo uma incentivadora da criação do Curso Normal Regional em 1949. É interessante destacar que em 1955 a ação educacional de Helena Antipoff tem vínculo com a história da Universidade Estadual de Minas Gerais – Campus Ibirité, através da criação do Instituto Superior de Educação Rural (ISER). Em 1970, o ISER foi transformado em Fundação Estadual de Educação Rural – FEER e dedicou-se à formação de especialistas de ensino primário e professores primários para a zona rural. Decorridos oito anos, a FEER passou a designar-se Fundação Helena Antipoff. Em 1999, o projeto de criação dos cursos superiores em educação, idealizado por Helena Antipoff com a criação do ISER, foi concretizado pela professora Irene de Melo Pinheiro. A partir de 2001, a Fundação Helena Antipoff passa a oferecer os Cursos Superiores de Licenciatura do Instituto Superior de Educação Anísio Teixeira – ISEAT, por meio do Centro de Pesquisas e Projetos Pedagógicos – CPP, instituição particular, em convênio com a Fundação Helena Antipoff.
Dentro de um conjunto de unidades no campus Ibirité, a Fundação Helena Antipoff mantém em pleno funcionamento a Escola de Educação Básica (Escola Sandoval Soares de Azevedo), incluída no projeto Escola Referência da Secretaria do Estado de Educação (SEE); uma Biblioteca Comunitária Helena Antipoff; um Clube com piscina olímpica, quadras poliesportivas, espaço museal “Memorial Helena Antipoff”, além de uma área verde tiva com plantas locais e um riacho.
A FHA tem funcionado desde 2015 como um polo de apoio aos estudantes das escolas municipais de Ibirité para realização de atividades educativas culturais, dentro do conceito de ampliação de tempos e espaços propiciados pela política pública de educação integral a nível estadual e federal. No começo FHA atendia 400 alunos de 3 escolas, atualmente vem desenvolvendo a educação integral com 1000 alunos oriundos de 8 escolas, para isso conta com 25 professores designados pela secretaria de educação e 15 educadores encaminhados pelas ONG’s.
Na roda de conversa estavam presentes o diretor, professores(as) da escola Escola Sandoval Soares de Azevedo, profissionais da educação e educadores populares que contribuem para as atividades de educação integral. E as questões centrais problematizadas foram: como integrar um sistema único de ensino (escola normal e integral)? Como construir um currículo integrado? De que forma as atividades de educação integral pode impactar com as práticas curriculares das escolas do ensino básico? De certa forma, as falas dos professores(as) e educadores(as) apontam para o desafio de integração de conteúdos e interação entre escolas. Uma das estratégias de possibilitar a aproximação dos sujeitos envolvidos no processo está sendo estimular encontros antes de começar o semestre para a construção de um calendário comum, envolvendo a presença dos 8 gestores das escolas municipais e o grupo de coordenação pedagógica da Fundação Helena Antipoff. Além disso, para escolhas dos macrocampos do Programa Mais Educação são realizados encontros mensais com Comitê gestor com alunos, pais e representantes das secretarias de educação.
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